Mudança de geração numa PME é tema do quinto artigo da coluna mensal na Vida Económica. Saiu no suplemento Vida Judiciária da Vida Económica de 26 de novembro de 2021 e na versão online.
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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 5
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em comunicação
Prevenção e Mediação de conflitos
Mudança de geração – solo fértil para cultivar conflitos
Vestida a rigor, portátil debaixo do braço e passo determinado – é assim que a sobrinha entra no seu novo escritório. Com o MBA no bolso e a quota maioritária recebida pelos avós, veio para dinamizar e modernizar a empresa, até ao momento gerida pelos tios.
O casal, surpreendido com a decisão dos avós, recebeu-a de braços abertos e viu na formação e juventude dela uma grande mais-valia para o futuro da empresa. A sobrinha encarava os tios como parceiros valiosos pela longa experiência no negócio. Iniciaram a colaboração com o foco na comunicação aberta e na troca de impressões, com reuniões diárias e uma excelente atmosfera de trabalho. Motivadíssimos e satisfeitos no trabalho, desenvolveram em conjunto a estratégia do futuro.
Ou não foi bem assim? Na realidade, foi um salto para água gelada. Os tios viam a sobrinha como intrusa e trataram-na como tal. O que poderia ela saber do negócio, tão novinha que era, com muita teoria, mas sem conhecer o mercado? A sobrinha via os tios como carga, como empresários antiquados com conhecimentos ultrapassados. Devido aos preconceitos mútuos, não havia diálogo nem reuniões nem estratégia comum. Não havia motivação nem satisfação no trabalho. A colaboração estava limitada ao inevitável.
Foi mesmo na última que conseguiram dar a volta. A teimosia era tal que os três foram aguentando dia após dia, semana após semana, mês após mês o péssimo clima de trabalho. Não demorou muito até o conflito pegar fogo e envolver cada vez mais elementos da família. Só quando a má gestão começou a refletir-se gravemente nos resultados, a sobrinha e os tios decidiram procurar ajuda profissional.
A mediação de conflitos é o melhor método para resolver conflitos entre gerações porque fomenta o diálogo e a compreensão. A mediadora ou o mediador ajuda as gerações a compreenderem e a respeitarem-se: Com diferentes técnicas de comunicação consegue tornar neutros os depoimentos das pessoas em conflito e permite assim uma reinterpretação do sucedido, uma nova postura e maior abertura. Esta abertura permite que as pessoas envolvidas definam como querem conviver no futuro. Comprometem-se no acordo de mediação com pontos mesuráveis.
A mudança de gerações em empresas é um solo fértil para cultivar conflitos. Melhor do que uma mediação é prevenir e convidar profissionais de comunicação para acompanharem o processo: para incentivarem, criarem estratégias e treinarem técnicas de comunicação e, assim, tornarem possível e produtivo o diálogo vivo entre forças conservadoras e progressivas.