Sobretudo as mulheres devem conhecer a situação: no meio da conversa, de repente, um ou uma colega faz um comentário sexista. Como reagir?
Este é o tema do atual artigo da coluna de Silke Buss sobre mediação na Vida Económica. Saiu no dia 23 de junho de 2022.
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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 12
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em Comunicação
Prevenção e Mediação de conflitos
Rumo a uma sociedade mais aberta e menos conflituosa
«Foi um comentário sexista, sim, mas a Rita reagiu de uma forma exagerada, entrou logo em parafuso», disse-me um cliente numa sessão de coaching. Como diretor executivo, queria saber como lidar com este tipo de conflitos na equipa. A Rita, diretora dos Recursos Humanos, tinha ido ao seu gabinete para se queixar do colega. Que grande confusão! Que conflito desnecessário! Tanto tempo de trabalho perdido por nada! Quantas vezes acontecem situações dessas nos corredores ou nos escritórios das empresas? Um colega faz um comentário que é interpretado como sexista por uma colega e esta engole, fica amuada e faz queixinhas ao ou à chefe. Muito melhor e saudável para a Rita teria sido esclarecer a situação no momento, já que a grande maioria desses comentários não são ditos de forma consciente. São aprendidos e repetidos sem reflexão. Conheço o colega da Rita. É um homem inteligente, aberto e a favor da igualdade de género. Custa-me imaginar que disse a frase que disse de forma consciente, a não ser que fosse sua intenção picar a colega. Não combina minimamente com a pessoa. Não é coerente.
A questão é: Porque é que a pessoa ofendida não reagiu no momento? Há tantas formas de reagir, é só escolher conforme a personalidade. Uma pergunta padrão, por exemplo, que provoca a reflexão imediata é esta: O que quer dizer com isso? Também se pode brincar com a situação – dizer, por exemplo: Que comentário machista! – e ver o que acontece. Outra sugestão: Repetir a frase com ênfase exagerado: devagar e com pausas entre as palavras. Enfim, há várias formas. Essencial é esclarecer em vez de interpretar. Com uma reação imediata, a Rita até poderia ter estimulado o debate sobre o sentido dessas velhas frases oriundas de uma sociedade paternalista em que as mulheres não podiam votar nem fazer carreira.
Já vivo em Portugal há quase 25 anos, conheço Portugal desde 1984 e frequentei um liceu luso-alemão, mesmo assim, continuo impressionada com o atrito na comunicação. Nas equipas de trabalho nas empresas, muitas vezes a comunicação não flui. Não há perguntas, nem respostas, não há críticas construtivas nem elogios específicos. Fala-se muito, diz-se pouco. Quem se dá ao trabalho de informar proativamente, de esclarecer ou especificar com perguntas, de indicar prazos exatos e de questionar quando estes não são respeitados? São poucas as pessoas que assumem tanta responsabilidade. E qual o ponto de situação das críticas? Uma cultura de crítica construtiva numa empresa é o fundamento da melhoria contínua. No entanto, a realidade é esta: Criticar o colega ou a colega, é melhor não, ainda vou ter consequências negativas. Criticar o meu chefe ou a minha chefe? Nem pensar, essas atitudes vingam-se mais cedo ou mais tarde. Já a apresentação de uma opinião diferente ou de uma melhoria é arriscada. Será que essas crenças correspondem à verdade? Continuam válidas num Portugal moderno e democrático?
Fazer perguntas, comunicar de forma aberta e defender uma opinião aprende-se. Ideal é se esta aprendizagem acontecer na infância – em família, na escola, entre amigos e amigas, mas nunca é tarde. Utilizar as ferramentas da comunicação de uma forma mais consciente contribui, de forma significativa, para o bem-estar, o sucesso e o equilíbrio. É o contributo de cada um e de cada uma para uma sociedade mais aberta e menos conflituosa.