A igualdade é um dos princípios fundamentais da mediação. É uma ferramenta fortíssima na comunicação em geral. Eis o tema do atual artigo da coluna mensal “Prevenção e Mediação de Conflitos” de Silke Buss. A fonte de inspiração foi mais uma vez uma história do seu pai que, na reunião de fecho da fábrica, fez questão de ter, como diretor-executivo, as mesmas condições de comunicação que os colaboradores e colaboradoras. O artigo saiu na Vida Económica de 20 de dezembro de 2024.
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Prevenção e Mediação de Conflitos
A reunião de fecho da fábrica, o princípio da igualdade e um vídeo chocante
“Recusei o microfone para falar às nossas colaboradoras e aos nossos colaboradores. Sabia que iam ter muitas perguntas e também não iam ter microfone”, contou-me o meu pai na minha visita a Gronau/ Alemanha em novembro. Como bom comunicador, explicou a recusa do microfone nessa reunião geral em voz bem alta para que as quase cem pessoas soubessem que o sócio-gerente as tratava com respeito e fair-play. Desta forma, reforçou a sua boa relação e destacou-se dos oradores anteriores que tinham usado microfone. Começar o discurso a reconfirmar a confiança e o canal de comunicação aberto foi extremamente importante nesse momento difícil em 1995: O meu pai explicou em palavras simples que a fábrica de produção têxtil iria fechar, apesar de ainda ter lucro. Foi a primeira de dezenas na região. Nenhuma sobreviveu.
A igualdade é um dos princípios fundamentais da mediação. Sem igualdade entre as pessoas participantes, este método de resolução de conflitos não pode funcionar. Uma vez, já foi há uns dez anos, encontrei um vídeo institucional de formação que me chocou. Estava a preparar uma apresentação e queria incluir um vídeo português que mostrasse uma mediação, em vez de recorrer a um internacional, e descobri este exemplo que violava claramente o princípio da igualdade. Mostrava uma mediação entre um chefe e uma funcionária de uma padaria. Ele foi sempre tratado por Senhor Silva e ela por Paula – estou a inventar os nomes porque já não me lembro – tanto pela funcionária e pelo patrão como (atenção!) pelo mediador. O que foi transmitido à Paula logo desde o início da mediação: Nem penses que aqui tens os mesmos direitos que o teu patrão! E o Senhor Silva parecia ter a sensação acolhedora: Afinal, a Paulinha vai ter de aceitar as minhas condições. Péssimo!
Cabe à mediadora ou ao mediador criar um ambiente propício desde o início e, se necessário, estabelecer regras de comunicação. Fundamental é assegurar a igualdade de tratamento. Desta forma, transmitimos às pessoas participantes: Nesta mediação, cada pessoa tem os mesmos direitos, independentemente da idade, função, relação, etc. Costumo trabalhar só com os nomes ou com Senhor/ Senhora mais apelido, conforme as preferências das pessoas participantes, e funciona lindamente, por vezes com alguns lembretes no início.
O efeito psicológico do tratamento é enorme. Tem tanto peso como o setting certo. Quem deve sentar-se onde na mediação? O vídeo instrutivo mostrava a pior opção. O mediador tomava lugar à frente de uma mesa após ter convidado a Paula e o Senhor Silva para se sentarem frente a frente, à sua esquerda e direita. Na prática, nem pensar! Este setting impossibilita a realização bem-sucedida da mediação: Convida o patrão e a funcionária a continuarem a sua discussão, em confronto direto e com foco no conflito, e debilita o papel de liderança do mediador. O setting ideal seria um triângulo sem mesa. Assim, seriam estabelecidos dois canais de comunicação individuais entre cada um e o mediador. É exclusivamente este diálogo que é desejado no trabalho de resolução de um conflito, até às fases finais, quando as pessoas procuram soluções e chegam a um acordo.
Decidi levar o vídeo para a formação. Aconteceu o que estava à espera: As pessoas participantes conseguiram identificar os dois erros fundamentais. Ainda bem!